top of page

TRATO GASTROINTESTINAL

O sistema gastrointestinal é composto por órgãos ocos e que se comunicam nas duas extremidades com o meio ambiente, constituindo assim, o chamado trato gastrointestinal (TGI). Os órgãos que compõe o GTI são: cavidade oral, faringe, esôfago, intestino delgado, intestino grosso e ânus. Estes órgãos são separados entre si por esfíncteres. Já os órgãos anexos ao TGI são: glândulas salivares, pâncreas, fígado e vesícula biliar, que armazena e concentra a bile secretada pelo fígado. A secreção das glândulas salivares é lançada na cavidade oral e as secreções pancreática e biliar, no intestino delgado.

Essas secreções lançadas no lúmen do TGI digerem quimicamente o alimento ingerido, este processo é facilitado pela motilidade que proporciona mistura, trituração e progressão do alimento. Os alimentos da dieta ou macronutrientes, os carboidratos, as gorduras e as proteínas serão quebrados, sofrendo ação de hidrólise, pelas enzimas. Sendo elas:

  • Digestão de carboidratos: amilase – encontrada na boca e no intestino delgado.

  • Digestão de lipídeos (gorduras): lipases – encontradas no intestino delgado.

  • Digestão de proteínas: proteases/peptidases – encontradas no estômago e no intestino delgado.

1.png

Figura 1. Esquema do sistema gastrointestinal. 

Fonte: (AIRES, 2012)

MOTILIDADE GÁSTRICA

O SGI é inervado pelo sistema nervoso entérico (SNE), que é uma rede neural encontrada na parede do TGI. É formado por plexos ganglionares maiores – o submucoso e o mioentérico – e por plexos ganglionares secundários e terciários. O SNE é autônomo e consegue regular funções motoras, secretoras e endócrinas. As fibras do SNA – parassimpático e simpático – fazem sinapses com os interneurônios do mioentérico e submucoso, modulando a ação do SNE. O plexo mioentérico fornece inervação motora às camadas circular e longitudinal, bem como secreto motora à mucosa. Já o plexo submucoso se condensa no intestino delgado, inervando, além do epitélio glandular, células linfoides, a muscular da mucosa e os vasos sanguíneos submucosa.

A motilidade gastrointestinal, ou movimentos peristálticos, tem como objetivo mover o alimento para o próximo segmento do intestino delgado. Por isso, possui dois plexos mioentéricos, sendo um de movimento de segmentação, que ocorre quando a parte anterior ao bolo alimentar se contrai, empurrando-o para a frente, juntamente com o relaxamento da parte posterior, para que o bolo tenha passagem, pode-se chamar de estrangulamento. E o segundo plexo, que pode ocorrer tanto no estômago quanto no intestino delgado, por favorecer a digestão e a absorção dos nutrientes e acontece porque o segmento contrai sobre o bolo alimentar e não em suas extremidades.

Os neurotransmissores do SGI são sintetizados e armazenados pelos neurônios pré-sinápticos do SNA, alguns exemplos de neurotransmissores pré-sinápticos parassimpáticos são: acetilcolina e óxido nítrico (NO), enquanto a norepinefrina é o hormônio pré-sináptico simpático.

Abaixo veremos um quadro que mostra as ações e as origens de alguns neurotransmissores.

2.png

Quadro 1. Neurotransmissores e neuromodulares do SGI.

Fonte: (AIRES, 2012)

BIOFÍSICA - ONDAS LENTAS

As ondas lentas possuem frequência específica para cada região do TGI, sendo determinadas nas regiões de marca-passo. Estas regiões são constituídas por células com características como: miofibroblastos, indiferenciadas e de fibras musculares lisas diferenciadas, chamadas de fibras intersticiais de Cajal (FICj), quando em conjunto. As FICj conseguem se comunicar entre si e entre as fibras musculares do TGI, através de gap-junctions, propagando assim, excitação por toda a célula.

Deste modo, as células musculares lisas desenvolvem ondas lentas, que são determinadas pelas regiões de marca-passo específicos de cada região do TGI, como dito anteriormente, dando origem ao ritmo elétrico basal (REB). O REB do estômago é de 3 ondas/min, do duodeno 12/min e o do íleo, de 9 a 8/min.

Ondas lentas são despolarizações subliminares do sarcolema, resultantes da variação do potencial de membrana. Pode ocorrer contrações musculares da fibra, juntamente com as ondas lentas, se alcançaram o limiar contrátil da fibra. Pode ser justificado devido a ativação de VOC’s de Na+, K+ e Ca2+; este último, quando penetra as fibras, acopla excitação ao fenômeno contrátil.

O SNA e o SNE podem regular a amplitude das ondas lentas e alterar a frequência não só de ondas lentas, mas dos potenciais de ação que ocorrem nos picos de tais ondas, sendo assim, a frequência do REB e a força contrátil são regulados pelo SNA e o SNE.

3.png

Figura 2. Esquema indicando as ondas lentas em fase com as contrações.

Fonte: (AIRES, 2012)

SECREÇÃO SALIVAR

A saliva contém eletrólitos e solutos orgânicos que são secretados principalmente pelas glândulas salivares, sendo elas: parótida, submandibular e sublingual. As parótidas secretam uma substância chamada de secreção serosa, que é rica em proteínas, especificamente, a enzima amilase, já a glândula sublingual possui uma secreção mucosa – secreta mucina, apenas; entretanto, as glândulas submandibulares têm secreção mista, secretam ambas as substâncias.

 

Podemos visualizar as diferenças entre as glândulas na figura a seguir:

4.png

Figura 3. Cortes histológicos das glândulas parótida, submandibular e sublingual.

Fonte: (AIRES, 2012)

A saliva realiza, ainda, outras funções: umidifica e lubrifica o alimento; dissolve parcialmente os alimentos, o que gera a sensação do paladar; possui atividade antisséptica devido à presença de lisozima, enzima que lisa a parede celular de bactérias, e IgA, inicia a digestão dos carboidratos (amilase está envolvida) e tem ação excretora (vírus/bactérias).

SECREÇÃO GÁSTRICA

O estômago possui um pH que pode variar de 0,9 a 2,0 e possui funções secretórias, motoras e hormonais importantes no processo digestivo. Esse órgão secreta, além de HCl, enzimas e hormônios que regulam a secreção gástrica.

O estômago secreta, aproximadamente, 1 a 2 litros de suco gástrico por dia, este fluido possui alguns componentes, sendo eles:

  • HCl e fator intrínseco: HCl – possui importante ação bactericida; fator intrínseco – importante para a absorção da vitamina B12. São secretados pelas células parietais ou oxínticas.

  • Pepsinogênio: enzimas ainda em sua forma inativa e que são produzidas pelas células pépticas ou principais.

  • Lipase gástrica: enzima que hidrolisa triacilgliceróis e que é produzida por células específicas das glândulas gástricas.

  • Muco: secretado pelas células superficiais das glândulas gástricas, constrói uma camada sobre a superfície luminal do estômago.

A secreção de H+ é regulada por hormônios, temos a gastrina que, quando estimulada pela presença de proteínas e aminoácidos no estômago, fará com que a secreção de H+ se intensifique, em contrapartida, temos a secretina, que estimula a secreção de bicarbonato, fazendo com que a concentração de H+ diminua. A colecistocinina, outro hormônio gastrointestinal, estimula a contração da vesícula biliar para que haja liberação da bile, agindo também no sistema nervoso central provocando saciedade no indivíduo. A liberação deste hormônio é estimulada quando há presença de lipídeos no estômago.

SECREÇÃO PANCREÁTICA E BILIAR

O pâncreas é uma glândula mista, ou seja, possui secreções endócrina e exócrina. Para o assunto gastrointestinal, é a parte exócrina que nos interessa, pois tem função digestiva. Costuma ter dois componentes, secretados ao mesmo tempo, porém, que são produzidos por tipos celulares diferentes. O componente enzimático, possui cerca de 20 precursores de enzima, os zimogênios (enzimas inativas) e é produzido e secretado pelas células acinares. Já o componente aquoso, produzido pelas células ductais, é um fluido alcalino de HCO3- (bicarbonato). Desse jeito, a secreção exercida pelo pâncreas exócrino, gera uma combinação de secreções de duas populações de células.

Os precursores enzimáticos e enzimas ativas, ficam concentrados nos grânulos de zimogênio, que estão presentes no bordo apical das células acinares, estas possuem um retículo endoplasmático bastante desenvolvido. Para que os zimogênios fiquem ativos no intestino delgado, precisamos primeiramente da enzima enteroquinase duodenal, que irá agir no tripsinogênio, transformando-o em sua forma ativa, tripsina. Esta por sua vez, consegue ativar todos os demais zimogênios, fazendo assim, com que estas consigam atuar na digestão.

5.png

Figura 4. Esquema que mostra os tipos celulares do pâncreas.

Fonte: (AIRES, 2012)

A bile é produzida pelo fígado e armazenada na vesícula biliar, sendo posteriormente, secretada no intestino delgado (duodeno), principalmente, nos períodos de digestão, através do ducto biliar comum, sua secreção é estimulada, predominantemente, pela presença dos produtos da hidrólise lipídica. Há um aumento da secreção de CCK que, além de incentivar a secreção proteica do pâncreas, relaxa o esfíncter de Oddi, pois relaxa a musculatura lisa da vesícula biliar.

A bile não possui nenhuma enzima digestiva, mas funciona como um agente sobre as gorduras em suspensão no fluido aquoso do intestino, seus componentes, como sais biliares, fosfolipídeos e o colesterol, formam micelas que interagem com as gorduras, diminuindo assim, a tensão superficial e rompendo-as em gotículas, chamado assim de emulsificação.

6.png

Figura 5. O sistema hepatobiliar.

Fonte: (AIRES, 2012)

ABSORÇÃO DE CARBOIDRATOS, PROTEÍNAS E LIPÍDEOS

Carboidratos: na membrana luminal, a glicose e a galactose, são transportados de forma ativa pelo SGLT-1, sendo da seguinte forma: há o acoplamento de uma glicose (ou galactose) juntamente com 2 moléculas de Na+, já na membrana basolateral, tanto a glicose como a galactose são transportadas por meio de transporte passivo (difusão facilitada), mediada pelo carregador de membrana GLUT2. Por sua vez, a frutose é transportada através da membrana luminal também por difusão falicitada, entretanto, o GLUT envolvido é o GLUT5.

7.png

Figura 6. Mecanismo de absorção da glicose, galactose e frutose.

Fonte: (AIRES, 2012)

Proteínas: o enterócito é capaz de absorver tanto aminoácidos livres, quanto dipeptídeos ou tripeptídeos. Portanto, para o sangue, são mandados apenas os que estão livres, quando o enterócito absorve di ou tripeptídeos, estes precisam terminar sua digestão ainda dentro da célula, para então serem dispersados no sangue.

8.png

Figura 7. Abosrção de peptídeos através da membrana luminal dos enterócitos.

Fonte: (AIRES, 2012)

Lipídeos: as micelas possuem os produtos da digestão lipídica, como dito anteriormente, não precisam de transportador, conseguem entrar no enterócito, local onde começam a se conjugar, formando:

Colesterol + ácido graxo livre = éster de colesterol

Monoglicerídeos + ácido graxo livre = triglicerídeos

Lisolecitina + ácido graxo livre = fosfolipídeos

Estes três produtos se juntam originando uma nova micela denominada de quilomícron, sofrem exocitose dos enterócitos, caem na corrente sanguínea e, por fim, alcançam o fígado.

© 2019 por fisiologia integrativa. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page